A importância do saneamento básico ficou ainda mais evidente em 2020, ano marcado pela maior crise de saúde pública no último século. O acesso à água era o básico para que as pessoas pudessem lavar as mãos e higienizar as superfícies, medidas importantes de proteção contra o novo coronavírus, causador da Covid-19. A pandemia chegou ao país em um momento no qual ainda cerca de 35 milhões de brasileiros não recebiam água tratada em suas casas e quase 100 milhões (48% da população) não eram atendidos por coleta de esgoto.
O Novo Marco Legal do Saneamento (Lei nº 14.026/2020) foi aprovado pelo Senado em junho do ano passado e sancionado pelo presidente da República em julho. A nova legislação traz mudanças importantes para permitir o avanço da infraestrutura de saneamento básico no país, como a ampliação das competências da Agência Nacional de Águas (ANA) para definir normas de referência, isonomia nas licitações para novas concessões e a possibilidade de prestação dos serviços em blocos regionais de municípios.
Com regras mais claras definidas, o país tem agora o desafio de investir em torno de R$ 753 bilhões para alcançar, até 2033, as duas principais metas do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab): ter 100% dos municípios brasileiros abastecidos por redes de distribuição de água e 93% atendidos por sistemas coletores de esgoto.
Além da universalização, o Plansab prevê que 93% do esgoto coletado no país seja tratado antes de ser devolvido aos corpos hídricos. Atualmente, apenas 49% do que é coletado passa por algum tipo de tratamento. Isso significa despejar 5,6 mil piscinas olímpicas de esgoto in natura nos rios, córregos e mares brasileiros a cada ano.
Outro desafio do setor é a redução das perdas de água tratada. Para cada 100 litros de água produzida, aproximadamente 39 litros são desperdiçados em vazamentos e perdas comerciais. O aumento da eficiência do setor é uma condição essencial para que a universalização ocorra de forma sustentável, com menor pressão para a captação de água nos reservatórios.
O impacto econômico do investimento em saneamento básico é significativo. A avaliação é que, para cada R$ 1 alocado em serviços de água e esgoto, outros R$ 2,80 são gerados em benefícios para a economia por meio da ativação da cadeia produtiva. A estimativa consta em estudo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon).
O desafio para o setor, a partir de agora, está na modelagem e na estruturação de projetos que acelerem a universalização com base em critérios de eficiência e qualidade. A livre competição tenderá a priorizar as empresas que alcançarem a totalidade da população no menor tempo possível, oferecendo serviços de qualidade e tarifas adequados à capacidade de pagamento local, com sustentabilidade econômica e ambiental na gestão dos ativos.
Com o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, implementamos nosso Plano de Gestão e Contingência de Crises com três objetivos principais: proteger nossos funcionários e terceiros, dar continuidade ao atendimento da população para a prestação dos serviços essenciais de água e esgoto e preservar a liquidez financeira da companhia. O modelo que adotamos mostrou-se resiliente e sólido para garantir o fluxo ágil e direto de comunicação entre a alta administração e as equipes, o compartilhamento de informações entre as diferentes unidades e a priorização dos aspectos mais críticos para o negócio.
Cada uma de nossas unidades instalou um comitê local (IMT), que se comunica diretamente com o Comitê de Gestão de Crise (BST) central, liderado pela CEO da companhia. O BST, por sua vez, é responsável pelo reporte contínuo das informações e planos de ação estabelecidos para os representantes do acionista controlador.
Ao longo de 2020 e de 2021, essa estrutura permitiu o acompanhamento do avanço da doença nas diferentes regiões do Brasil, a evolução dos protocolos de segurança adotados pelas autoridades de saúde do país e internacionais e a definição das ações a serem tomadas para a continuidade dos negócios com segurança e redução de riscos. Além disso, possibilitou o compartilhamento dos planos de ação das diferentes áreas (comercial, regulatória, comunicação etc.) para avaliar riscos e impactos e subsidiar a tomada de decisão.
Os funcionários com condições especiais de risco, como diabetes, hipertensão ou idade mais avançada, foram prontamente orientados a permanecer em casa, para reduzir o risco de se contaminarem e evoluírem para casos graves.
Ainda no primeiro trimestre de 2020, os profissionais dos escritórios e das lojas de atendimento foram direcionados para o trabalho remoto, em suas casas. Migramos nossas plataformas e sistemas para permitir a conectividade fora de nossas instalações e apoiamos a transição de todos para uma atuação com segurança e confiabilidade.
Essa migração incluiu os atendentes de telemarketing, responsáveis pelo recebimento das chamadas telefônicas de nossos clientes. Todos os funcionários foram preparados e equipados para trabalhar em suas residências, garantindo a qualidade no atendimento às demandas dos clientes.
Também intensificamos os canais digitais de atendimento e, ao longo de todo o ano, realizamos campanhas de comunicação para incentivar os clientes a usarem essas plataformas. Passamos a utilizar o WhatsApp como meio de comunicação para a solicitação de serviços – como a emissão de segunda via – e criamos a nossa agência virtual Minha BRK.
As atividades operacionais nas unidades foram mantidas ao longo da pandemia, mesmo com a redução da equipe de funcionários trabalhando presencialmente. Aproximadamente 70% dos profissionais continuaram a trabalhar nas atividades de campo, seguindo todos os protocolos e medidas de segurança definidos pelas autoridades municipais e por nossas políticas internas.
Diariamente, os funcionários respondiam a um questionário de autoavaliação das suas condições físicas e de saúde. Também fazíamos medições da temperatura corporal no início dos turnos de trabalho e testes para detecção do vírus.
Reforçamos os procedimentos para a colocação e retirada dos equipamentos de segurança já existentes e focados em evitar o risco de contaminação. A aplicação das boas práticas de segurança e a distribuição de todos esses materiais, previstas em nosso Programa de Gestão do Trabalho Seguro (SWMS), mostraram-se adequadas para reduzir a exposição de nossos profissionais.
Os funcionários que trabalham em operações que interagem com as redes de esgoto passaram por treinamentos específicos relacionados ao uso, paramentação e desparamentação de equipamentos de proteção individual (EPIs), uso de álcool em gel, correta higienização das mãos e utilização de máscaras faciais descartáveis e de tecido.
Os funcionários que atuam em áreas administrativas, tanto na sede quanto nas unidades, passaram a trabalhar de forma remota, em suas próprias residências. No segundo semestre de 2020, quando o número de casos diminuiu no país, iniciamos o planejamento do retorno aos escritórios. As primeiras pessoas a retornarem foram voluntárias, e não foi permitida a volta de nenhum funcionário classificado como pertencentes a grupos de risco da doença. No início de 2021, quando o registro de novos casos no Brasil voltou a crescer, retomamos as medidas de isolamento mais restritivas e paralisamos as atividades administrativas presenciais.
Também criamos um protocolo de testagem, validado por médicos do Centro de Vigilância da Covid-19 em São Paulo, propondo duas abordagens: testes horizontais (avaliação em massa na população de uma determinada unidade) e testes verticais (com indicação em casos suspeitos ou contactantes). Para isso, utilizamos exames sorológicos e moleculares para detecção do coronavírus, contando com laboratórios particulares. Nos municípios em que havia um alto número de casos, fizemos um programa piloto com a testagem em massa de todos os funcionários daquela localidade.
Outra inovação foi o uso de um aplicativo chamado MPI – Mapeamento Preventivo de Interações. Instalada nos celulares dos funcionários, a ferramenta permite mapear as interações ocorridas no ambiente de trabalho e tomar as medidas necessárias caso alguma pessoa apresente suspeita ou confirmação da doença.
Para respaldar cientificamente todas as ações, contamos com a consultoria do médico infectologista e imunologista Esper Kallas, professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A participação do especialista orientou a definição de alguns protocolos e de orientações para as equipes.
Para evitar o risco de um aumento de casos entre os funcionários, retomamos as medidas de isolamento mais restritivas no início de 2021.
Durante o ano, realizamos diversas ações e participamos de iniciativas para contribuir no combate ao coronavírus e aos seus impactos sobre as comunidades locais nos municípios em que atuamos. Nossa companhia realizou a doação de R$ 2 milhões para a compra de diferentes tipos de equipamentos para apoiar os hospitais públicos.
Desse total, R$ 1,3 milhão foi destinado à organização social Comunitas, que atua em projetos de melhoria da gestão pública, e aplicado na compra de 42 monitores de UTI, 24 camas hospitalares e 6 monitores de triagem. As doações foram revertidas para os governos estaduais do Tocantins e de Goiás e para a prefeitura de Palmas (TO).
Outros R$ 700 mil foram doados para a compra de kits de higiene e limpeza, materiais hospitalares e máscaras, destinados a instituições de saúde, ONGs e prefeituras dos municípios em que atuamos (veja a lista de beneficiados no boxe abaixo).
Também participamos da Aliança Empresarial para Enfrentamento da Covid-19, organizada pelo Senai Cimatec, com foco na recuperação de equipamentos de ventilação mecânica. A iniciativa alcançou um total de 2.181 respiradores recuperados, que beneficiaram hospitais de praticamente todos os estados do país. Desse total, 1.742 aparelhos foram destinados a instituições de saúde localizadas nos estados em que a BRK Ambiental atua.
Limeira: Doação de desinfetante hospitalar para a Santa Casa de Misericórdia e de amônia quaternária para a prefeitura promover a desinfecção das ruas.
Macaé: Doação de 20 mil máscaras para a prefeitura do município e doação de insumos para produção de 10 mil máscaras pelas costureiras voluntárias do Centro de Educação Tecnológica e Profissional (Cetep) da Secretaria Adjunta de Qualificação Profissional.
Maranhão: Doação de 20 mil máscaras N95 para os municípios de São José de Ribamar e Paço do Lumiar (Região Metropolitana de São Luis) e para o Governo do Estado do Maranhão.
Região Metropolitana do Recife: Doação de materiais ao Hospital Correia Picanço.
Rio Claro, Santa Gertrudes, Sumaré e Mauá: Doação de kits de limpeza distribuídos para dez ONGs de atendimento a idosos e população vulnerável das regiões.
Uruguaiana: Doação de kits de higiene para três ONGs do município.
Zona Oeste do Rio de Janeiro: Doação de 32 mil sabonetes e 16 mil detergentes para 17 comunidades
A educação de crianças e adolescentes, que pararam de ter aulas presenciais durante praticamente todo o ano, foi um dos principais desafios relacionados à disseminação da doença no Brasil. Por isso, realizamos a doação de R$ 2,5 milhões para o projeto “Volta ao Novo – Programa de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais”, idealizado pelo Instituto Ayrton Senna – ONG especializada na temática do desenvolvimento educacional – em parceria com o Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed).
O projeto tem como objetivo promover treinamentos e dividir informações relacionadas a competências socioemocionais fundamentais, como resiliência emocional, amabilidade, abertura ao novo, engajamento com os outros e autogestão. Quando corretamente implementadas, essas competências contribuem para a melhoria da qualidade da educação e a evolução do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
A proposta é que os ensinamentos sejam compartilhados com as unidades de ensino para auxiliar no processo de acolhimento da comunidade escolar após os possíveis efeitos do isolamento social para o bem-estar de estudantes e educadores. Na primeira fase, o projeto impactou aproximadamente 45 mil professores de 25 estados e do Distrito Federal.
No município de Macaé, uma parceria entre a BRK Ambiental e o Instituto Senai de Inovação em Química Verde (ISI QV) criou um programa inovador para detecção do coronavírus no esgoto. A expectativa é que, com esse método inédito, possa ser possível estimar o nível real de contaminação na localidade, uma vez que existem casos de pessoas assintomáticas capazes de transmitir a Covid-19.
A vantagem da metodologia utilizada em relação a outros experimentos conduzidos em grandes centros urbanos no mundo é a capacidade de identificar a presença do vírus SARS-CoV-2 mesmo com uma carga genética muito pequena nas amostras coletadas. E, assim, os resultados poderão ser utilizados como indicador da densidade de casos positivos.
Na fase inicial da pesquisa, as amostras foram colhidas em quatro pontos diferentes da rede de esgoto da cidade de Macaé. O objetivo final da ação é permitir a criação de uma ferramenta que apoie as políticas de combate ao coronavírus.
O projeto conta com apoio da prefeitura de Macaé e tem financiamento da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII).